Blog do Rafael Nemitz
____________________________________________________
Diário de Santa Maria
Primeiro viaduto do trevo da
Uglione deve ser liberado até o início de maio
Retomada das aulas em 30 de abril
ainda é incerta
são pedro do sul
Motociclista
morre em acidente na BR-287
____________________________________________________________________________
Correio do Povo
Rio Grande do Sul registra 27ª morte por coronavírus
Bolsonaro sobe discurso em ato contra
Congresso: "Não vamos negociar nada"
Brasil tem 2.462 mortes e 38.654 casos confirmados de
Covid-19
________________________________________Tempo
Dia ensolarado, iniciando com 13°, vento calmo. Temperatura chegará aos 30° à tarde. As eventuais previsões de chuva são para 27 ou 28 de abril, mas em pouca quantidade.
_____________________________________________________
São Vicente do Sul - Corona
Continua estabilizado o número de monitorados em domicílio, cerca de 40. Nenhum caso suspeito de Covid-19. Tivemos dois casos suspeitos , mas o resultado do exame provou que não se tratava de Corona Vírus.
Só saia de casa usando máscara. Se não tiver, improvise, dobrando um lenço e unindo as pontas com elástico. Pode até ser borrachinha de dinheiro (escasso nestes tempos). Pode não ser a máscara ideal, mas sempre é uma barreira ao vírus.
__________________________________________________
São Vicente do Sul - Polícia
Segundo informações que circulam no Facebook, o rapaz com problemas de saúde, que andava perambulando e, até se apropriando de objetos pela cidade, já foi encaminhado pelo Conselho Tutelar, embora maior de idade, ao Hospital São Vicente Ferrer, para atendimento e eventuais outras providências.
Até o momento consta que não tenha agredido ou causado danos físicos a alguma pessoa.
________________________________________
Deoclécio, o taura do AlegreteCom atraso, estamos postando a continuação das aventuras do gaudério. Já estamos no capítulo IV da grande jornada literária dum macanudo em tempos de Corona.
Capítulo
IV
De Volta Para as Casas
Depois da recorrida nos
animais da Invernada, conferência de parte da cerca, da aguada, sal no cocho,
essas coisas, o peão rumou ao capão, onde havia um pé de umbu, com sombra louca
de especial para fazer um foguinho, assar um bom pedaço de chibo, fechar um
palheiro a preceito, estender os pelegos e dar uma sesteada sob o olhar atento
do Ventania, fiel escudeiro e da mais absoluta confiança.
A égua Xuxa teve o cabresto preso a um galho de pitangueira
e também entrou na modorra do empeçar da tarde.
Gaúcho sesteia não por vadio, mas por necessidade. Quem
aguentaria levantar todas as manhãs antes das quatro e passar o dia inteiro sem
afrouxar o garrão? Lá de vez em quando, quando a necessidade obriga, o índio não se entrega,
mas assim, de um sistema repetido, não se tem notícia de alguém que possa
sustentar o tirão.
De vereda o homem já tirara a soneca, dessas buenachas, em
que até sonhou com a Clemenciana, morena flor de lindaça, lá da Casa da
Romilda.
“Numa volta, enloco,
tiro ela da zona e trago aqui pra fora. Pois se me disse que gosta de mim? E
não pode?”
- Pode ou não se engraçar pelo taita aqui,
Xuxa?” – perguntou, mas a égua tinha mais o que fazer e não respondeu.
“Pois
se até fazendeiro já tirou china da zona, constituiu família e viveu como abençoado por padre, documentado por juiz. Por
que eu não poderia?”
E
nesses devaneios continuou conferindo o outro lado do aramado, o que fica pros
lados do Nascente. Justo quando apareceu um moirão todo esgualepado, caído para
uma banda. Coisa de touro atrás de vaca reinando.
“Agora
sim, tô bem arranjado. Hay que voltar direto, buscar moirão, pá, socador,
pedaço de arame, atílio e arrumar essa porqueira a tempo de estar na Estância
antes do seu Ponciano sair. Que botada essa!”
E
largou-se num galope a ver se conseguia arrumar o moirão caído a tempo.
E
a melodia do Canto Alegretense, martelando nas ideias:
“Mas que topada essa que me
apareceu:
Eu na corrida pra arrumá esse
aramado,
Porque uma vaca pro touro se
ofereceu.
Não vô pro povo e fico em casa
intocado.
Acho que agora vô entrá bem pelo
cano,
Na correria pra arrumá o tal moirão.
Não volto a tempo de i com o seu
Ponciano
E a Clemenciana vai ficá sem o seu
peão.”
Seu
Ponciano levou um baita susto quando viu a égua em galope desabalado,
levantando poeira, como vindo em missão de muita urgência. Conhecedor da responsabilidade
do sota-capataz, já foi entrando para pegar a sua pasta com documentos e outros
objetos que sempre o acompanhavam quando ia às fazendas. Assim, caso fosse caso
de muita precisão, já saíam direto para a cidade, para o hospital ou o que fosse.
E
pra já que o trio estava nas casas.
-
Que houve, Deoclécio? Alguma cobra, bicho morrendo, fala “hombre”!
-
O desinfeliz do touro “Brasino” me derrubô um moirão lá na costa da Restinga!
-
E qual o porquê da correria por causa dum moirão?
-
Seu Ponciano, se me demoro não consigo i lá, desfazê o estrago e voltá em tempo
de aproveitá a carona pro povo.
-
A la puxa! A saudade é grandota! Mas não te assusta, índio velho. Vamos ajeitar
as “cosa”.
E
prosseguiu o fazendeiro:
- Vai lá atrás das taquareiras, chama o negro
Bonifácio e diz que careço de ter uma palavra com ele.
Num
pé lá e outro cá o Deoclécio já estava com o Bonifácio defronte às casas.
-
Tchê, Bonifácio, careço dum favor teu. Deixa o corte das taquaras da horta para
a semana que vem. Agora, pega o material para arrumar um moirão lá perto da
Restinga. Nem encilha outro animal. Vai na Xuxa, mesmo. Mas devagar, que o
Deoclécio quase estrompou a égua com medo de perder o amor da prenda.
E
largou uma gaitada, dessas de patrão que respeita e é respeitado pelos
campeiros.
-
Mas seu Ponciano - quis remendar o
Deoclécio. Não carece. Eu mesmo arrumo.
-
E aí eu é que me desentendo com a patroa em casa. Fiquei de estar na cidade a
tempo duma janta com o compadre Joca e a comadre Mariquita. E com as estradas
do jeito que estão, levamos quase duas horas até lá. Esse negócio de padre que
vira prefeito sempre me representou que não ia dar certo. Um cristão que passa
a vida toda nos seminários, casa paroquial, essas coisas, vai entender de
arrumação de estrada? Lá pela cidade até que não é ruim, mas para nós, tá pior
do que a encomenda. Vai tomando teu banho e arrumando o mijados, que em meia
hora estamos saindo. E não tem mas, nem meio mas.
Voltou
para o escritoriozinho enquanto o peão se ia pro galpão, tirar a catinga com
sabão de barra, fazer a barba, passar brilhantina nas melenas, vestir pilcha
domingueira.
- Ainda bem que ontonte engraxei as bota –
resmungou baixinho. Como é que ia chegá nela, com os pisante sujo? Tempo pra
tudo não hay. Seu Ponciano é buenacho, mas em matéria de horário é pau, pau,
pedra, pedra. Se falou meia hora, nem meio minuto a mais.
Pois
depois de toda a correria, não é que me sai do galpão um sujeito até que
apresentável, faltando dois minutos para a tal meia hora, marcados no velho
relógio Tissot, dos de bolso, herança do avô do Deoclécio.
Seu
Ponciano conhecia os dotes poéticos e de
“a porfia” do peão.
-
E se tu não me for improvisando daqui até a cidade, te largo na beira da
estrada.
-
Bueno, patrão, até que posso tentiá! Mas careço duns gol de veiz em quando pra
não perdê a inspiração. O senhor permite que eu leve um quarto na guampa?
-
Mas só um quarto. Não quero ficar
aturando gambá na viagem. E, para o teu bem. Já pensou, chegar na prenda
testavilhando de borracho? Atenta nisso:
mulher nenhuma gosta de mamau.
E
como o “Canto Alegretense” continuasse martelando os pensamentos, Deoclécio lascou:
-
Patrão buenacho é o amigo, seu Ponciano.
Me esperô pra eu ir ver a
minha prenda.
Se Deus quiser, me caso ainda neste
ano
E trago ela pra morar cá na
fazenda!
O
estancieiro não pôde segurar o riso.
-
Seu Ponciano, o senhor premite que eu leve o violão?
-
Se jurar que não vai além dum quarto de trago e não largar um único verso de
pé-quebrado até o final da viagem, vai lá buscar.
E
pra já estavam os dois saindo porteira a fora no rumo da buraqueira que levava
ao Alegrete.
Ficará Deoclécio dentro dos limites
de “um quarto” de garrafa? Se perderá no improviso e largará verso de
pé-quebrado? E a Clemenciana, não terá esquecido o peão?Continue acessando.
________________________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário