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sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Os Oitenta Anos do "Rei" Pelé

 

        Os Oitenta Anos do "Rei" Pelé

 

        Passei a infância, juventude e vida adulta vendo as pessoas idolatrando e chamando Edson Arantes do Nascimento de rei do futebol.

         Nunca fui um fanático pelo esporte preferido da nação brasileira. Apenas dava meus chutes, participava de jogos sem grandes importâncias, era médio para ruim na linha e um goleiro bom, mas imprevisível. Tinha dias em que defendia até pensamento e, só para exemplificar, noutros, era um desastre, tanto que numa atrasada dum companheiro de time, para evitar o escanteio, fui pegar a bola e, isso mesmo, deixei escorregar e ir aninhar-se, devagarinho, no fundo da rede.

         Mas não é por minha relativa falta de jeito com o futebol que vou falar o que adiante se verá sobre o nosso "rei". Nem tomem isto como um desrespeito a todos os que curtem o futebol.

         O meu protesto vai muito além do mundo esportivo: tem a ver com o respeito à dignidade, aos sentimentos, às emoções, à alma, ao espírito do ser humano.

         Mas o que o "rei" tem a ver com isso? Futebol é saber driblar, posicionar-se, ter visão e sensibilidade para fazer o passe na hora certa, chutar com precisão, essas coisas.

         E nisso Pelé foi um mestre, dirão. Que jogava bem, acho que sim. Que foi o melhor, até pode ser. Que é o rei do futebol, bem, aí há controvérsias.

         Como não sou perito na área, digamos que o referido atleta tenha sido um excepcional e talvez um dos maiores, ou, quem sabe, o maior e melhor futebolista de todos os tempos.

         Mas daí a ser Rei existe muita estrada a percorrer.

         Porque rei não é apenas ser excelente numa única atividade. Rei do futebol implica em ser também pessoa com atitudes de rei na vida real, no dia a dia.

         Rei deve ter postura de rei. Deve honrar o cetro que porta e dignificar o trono em que se assenta.

         E isso faltou ao "rei" Edson Arantes do Nascimento.

         Que rei, digno do trono, faria o que ele fez com sua filha? Que rei se negaria a reconhecer a paternidade somente porque, como ele falou, "não tinha nenhum sentimento por ela" a filha?

         Caso ele quisesse preservar sua vida familiar, sua tranquilidade, a imagem de bom moço, pensasse antes de partir para um relacionamento inconsequente e meramente na busca de prazer próprio. A filha, Sandra, não pediu para vir ao mundo, muito menos o escolheu para pai. Mas ele, o "rei" assumiu o risco de ser pai, portanto, escolheu ter a filha.

         Se, eventualmente, teve problemas com a mãe de sua filha, se com ou sem razão pudesse sentir-se enganado, usado ou algo semelhante, a criança nada teve a ver com o que os pais fizeram antes de seu nascimento. Por ação dele, o "rei", e de sua mãe é que Sandra veio ao mundo. Se chegou aqui, foi para receber amor, apoio, dedicação, segurança, assistência, carinho, enfim, tudo aquilo que um ser frágil e indefeso merece receber.

         E os animais, ditos irracionais, são exemplo para nós do que deva ser a paternidade: experimentem judiar dum terneiro perto duma vaca, maltratar um cachorrinho perto da cadela, roubar o pinto duma galinha. Defendem sua prole com unhas, dentes, chifres e bicos.

         Mas o "rei" Pelé tinha que preservar a imagem de bom moço. De atleta infalível, que não dava o seu pulinho de cerca. De homem íntegro, responsável e cumpridor de seus deveres. Para tanto, não podia ter filha fora do casamento.

         Assim, assumir a paternidade, nem pensar.

         A justiça demorou mas, finalmente, e só depois do teste de DNA provar que Sandra era sua filha, houve o decreto judicial da paternidade, não o reconhecimento do "rei", pois este "não tinha sentimento pela filha".

         Esta aí o "Rei" de que tanto se fala por estes dias, porque está completando oitenta anos.

         Para mim, fazer oitenta anos, atingir tanto tempo percorrendo as estradas da vida e continuar tão desumano, tão insensível quanto ele, seria, não motivo de orgulho, mas de vergonha. Se nem com a velhice aprendeu a assumir a responsabilidade por seus atos, quando vai se emendar?

         Um pai que rejeita uma filha, que se recusa a visitá-la em seu leito de morte, quando o câncer a matava lenta e sofridamente, é o quê? Me digam.

         Para mim, pode ser tudo, menos "Rei". Para mim, pode saber jogar futebol com extrema habilidade e inteligência, mas vale menos do que muito cachorro que se vê andando pelas ruas.

         E não me venham com justificativas capengas de que ele pode ter lá os seus motivos. Rejeição de filho nunca pode ser justificada. Não para quem tem um mínimo de amor, carinho, afeto e respeito em seu coração.

         Oitenta anos do "Rei" ...

         Que tristeza! Que desonra para um país que cultua uma personalidade desse tipo.

         Pronto, falei.

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