Fui
Piá em São Vicente
Vilsom
Jair Barbosa
Mal começava a existência,
Era um toco de guri,
A costa do Toropi
Tornou-se minha querência.
Foi a mão da Providência,
Que a trotezito e com calma,
Dava bom rumo a minh'alma.
E a seiva bruta do amargo
Deu-me horizonte largo
Como só tem cá na Palma.
O pago
a que me refiro
Não
era um lugar ao léu;
Era um
pedaço do Céu
A
Fazenda Bom Retiro.
De
saudade, hoje suspiro;
Mui
bueno rincão de fato,
Onde o
Vovô Donato,
Um
farroupilha elegante,
Bem
montado no Brilhante
Do
gaúcho era o retrato!
A vida viaja a cavalo.
Caminha, trota e galopa;
E sem aviso o quera topa
Com cupim, toca ou com valo.
Então nos
supreeende o pealo
Lá se foi o meu avô.
Aquele que me orientou
Rumo ao corredor do bem,
De soco se foi pro além.
E o piazote, então chorou.
Adeus
para o arvoredo.
Adeus
minha tropa de osso.
Hoje
fazer não posso,
Mais
mangueira de brinquedo.
E nos
recuerdos me enredo,
Como
em barbante de saco.
Com a
saudade me atraco,
Não
arrebento esse ajojo.
E me
faz falta o apojo
Pra
dar força ao guri fraco ...
Nunca mais comi pitanga,
Gosto de puro mistério,
No rumo do cemitério.
A carreta, os bois de canga,
Os grandes, jeito de zanga,
Pareciam condenados
De semblantes emburrados.
Entre os miúdos,
gritaria;
Pra nós, era
de alegria,
O passeio de Finados.
Nunca
mais pesquei traíra
Com
três palmos "fora o rabo".
Vou
pescar, só fico brabo.
É
coisa que me admira:
Nem
lambari se tira.
O
peixe anda sumido;
É rio
e açude poluído.
Antes,
na minha infância,
De
peixe, tal abundância:
Pros vizinhos
distribuído.
E a velha Maria Fumaça,
Cortando a beira da Serra,
Levando para outra terra
Gente que vem e que passa?
Por mais esforço que faça,
Não escuto mais o grito.
Perdeu-se ao longe o apito.
Foi-se o trem de carga e gente.
Meu coração se ressente
Por não bater num piazito.
Foi-se
o tempo do sarampo
Da
geada, pé-no-chão;
A
capina, a marcação,
Vidrinho
de pirilampo.
Foi-se
o guri de campo
Nos
tombos da égua lerda.
A vida
assim nos deserda.
E o
choro a cara me banha:
Bom se
o guri de campanha
Não
sofresse tanta perda!
Outubro
2011
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