O internauta colabora

O internauta colabora

domingo, 20 de setembro de 2020

Fui Piá em São Vicente

 

Fui Piá em São Vicente

                                      Vilsom Jair Barbosa








Mal começava a existência,

Era um toco de guri,

A costa do Toropi

Tornou-se minha querência.

Foi a mão da Providência,

Que a trotezito e com calma,

Dava bom rumo a minh'alma.

E a seiva bruta do amargo

Deu-me horizonte largo

Como só tem cá na Palma.

 


 

         O pago a que me refiro

         Não era um lugar ao léu;

         Era um pedaço do Céu

         A Fazenda Bom Retiro.

         De saudade, hoje suspiro;

         Mui bueno rincão de fato,

         Onde o Vovô Donato,

         Um farroupilha elegante,

         Bem montado no Brilhante

         Do gaúcho era o retrato!



 

A vida viaja a cavalo.

Caminha, trota e galopa;

E sem aviso o quera topa

Com cupim, toca ou com valo.

Então  nos supreeende o pealo

Lá se foi o meu avô.

Aquele que me orientou

Rumo ao corredor do bem,

De soco se foi pro além.

E o piazote, então chorou.



 

         Adeus para o arvoredo.

         Adeus minha tropa de osso.

         Hoje fazer não posso,

         Mais mangueira de brinquedo.

         E nos recuerdos me enredo,

         Como em barbante de saco.

         Com a saudade me atraco,

         Não arrebento esse ajojo.

         E me faz falta  o apojo

         Pra dar força ao guri fraco ...



 

Nunca mais comi pitanga,

Gosto de puro mistério,

No rumo do cemitério.

A carreta, os bois de canga,

Os grandes, jeito de zanga,

Pareciam condenados

De semblantes emburrados.

Entre os  miúdos,  gritaria;

Pra nós,  era de alegria,

O passeio de Finados.

 

         Nunca mais pesquei traíra

         Com três palmos "fora o rabo".

         Vou pescar, só fico brabo.

         É coisa que me admira:

         Nem lambari se tira.

         O peixe anda sumido;

         É rio e açude poluído.

         Antes, na minha infância,

         De peixe, tal abundância:

         Pros vizinhos distribuído.


 

E a velha Maria Fumaça,

Cortando a beira da Serra,

Levando para outra terra

Gente que vem e que passa?

Por mais esforço que faça,

Não escuto mais o grito.

Perdeu-se ao longe o apito.

Foi-se o trem de carga e gente.

Meu coração se ressente

Por não bater num piazito.



 

         Foi-se o tempo do sarampo

         Da geada, pé-no-chão;

         A capina, a marcação,

         Vidrinho de pirilampo.

         Foi-se  o guri de campo

         Nos tombos da égua lerda.

         A vida assim nos deserda.

         E o choro a cara me banha:

         Bom se o guri de campanha

         Não sofresse tanta perda! 

 

                            Outubro 2011

 

 

 

        

Nenhum comentário:

Postar um comentário