O internauta colabora

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segunda-feira, 20 de abril de 2020

São Vicente do Sul, 20 de abril de 2020

Principais Manchetes 
Blog do Rafael Nemitz
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Diário de Santa Maria

Primeiro viaduto do trevo da Uglione deve ser liberado até o início de maio


Retomada das aulas em 30 de abril ainda é incerta

são pedro do sul

Motociclista morre em acidente na BR-287

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Correio do Povo

Rio Grande do Sul registra 27ª morte por coronavírus


Bolsonaro sobe discurso em ato contra Congresso: "Não vamos negociar nada"



Brasil tem 2.462 mortes e 38.654 casos confirmados de Covid-19

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Tempo



  Dia ensolarado, iniciando com 13°, vento calmo. Temperatura chegará aos 30° à tarde. As eventuais previsões de chuva são para 27 ou 28 de abril, mas em pouca quantidade. 
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São Vicente do Sul - Corona




   Continua estabilizado o número de monitorados em domicílio, cerca de 40. Nenhum caso suspeito de Covid-19. Tivemos dois casos  suspeitos , mas o resultado do exame provou que não se tratava de Corona Vírus.
   Só saia de casa usando máscara. Se não tiver, improvise, dobrando um lenço e unindo as pontas com elástico. Pode até ser borrachinha de dinheiro (escasso nestes tempos). Pode não ser a máscara ideal, mas sempre é uma barreira ao vírus.
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São Vicente do Sul - Polícia

   Segundo informações que circulam no Facebook, o rapaz com problemas de saúde, que andava perambulando e, até se apropriando de objetos pela cidade, já foi encaminhado pelo Conselho Tutelar, embora maior de idade, ao Hospital São Vicente Ferrer, para atendimento e eventuais outras providências. 
   Até o momento consta que não tenha agredido ou causado danos físicos a alguma pessoa.
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Deoclécio, o taura do Alegrete
   Com atraso, estamos postando a continuação das aventuras do gaudério. Já estamos no capítulo IV da grande jornada literária dum macanudo em tempos de Corona.

                   Capítulo IV
         De Volta Para as Casas

         Depois da recorrida nos animais da Invernada, conferência de parte da cerca, da aguada, sal no cocho, essas coisas, o peão rumou ao capão, onde havia um pé de umbu, com sombra louca de especial para fazer um foguinho, assar um bom pedaço de chibo, fechar um palheiro a preceito, estender os pelegos e dar uma sesteada sob o olhar atento do Ventania, fiel escudeiro e da mais absoluta confiança.
         A égua Xuxa teve o cabresto preso a um galho de pitangueira e também entrou na modorra do empeçar da tarde.
         Gaúcho sesteia não por vadio, mas por necessidade. Quem aguentaria levantar todas as manhãs antes das quatro e passar o dia inteiro sem afrouxar o garrão? Lá de vez em quando, quando a  necessidade obriga, o índio não se entrega, mas assim, de um sistema repetido, não se tem notícia de alguém que possa sustentar o tirão.
         De vereda o homem já tirara a soneca, dessas buenachas, em que até sonhou com a Clemenciana, morena flor de lindaça, lá da Casa da Romilda.
“Numa volta, enloco, tiro ela da zona e trago aqui pra fora. Pois se me disse que gosta de mim? E não pode?”
-  Pode ou não se engraçar pelo taita aqui, Xuxa?” – perguntou, mas a égua tinha mais o que fazer e não respondeu.
“Pois se até fazendeiro já tirou china da zona, constituiu família e viveu como  abençoado por padre, documentado por juiz. Por que eu não poderia?”
E nesses devaneios continuou conferindo o outro lado do aramado, o que fica pros lados do Nascente. Justo quando apareceu um moirão todo esgualepado, caído para uma banda. Coisa de touro atrás de vaca reinando.
“Agora sim, tô bem arranjado. Hay que voltar direto, buscar moirão, pá, socador, pedaço de arame, atílio e arrumar essa porqueira a tempo de estar na Estância antes do seu Ponciano sair. Que botada essa!”
E largou-se num galope a ver se conseguia arrumar o moirão caído a tempo.
E a melodia do Canto Alegretense, martelando nas ideias:
“Mas que topada essa que me apareceu:  
Eu na corrida pra arrumá esse aramado,
Porque uma vaca pro touro se ofereceu.
Não vô pro povo e fico em casa intocado.

Acho que agora vô entrá bem pelo cano,
Na correria pra arrumá o tal moirão.
Não volto a tempo de i com o seu Ponciano
E a Clemenciana vai ficá sem o seu peão.”

Seu Ponciano levou um baita susto quando viu a égua em galope desabalado, levantando poeira, como vindo em missão de muita urgência. Conhecedor da responsabilidade do sota-capataz, já foi entrando para pegar a sua pasta com documentos e outros objetos que sempre o acompanhavam quando ia às fazendas. Assim, caso fosse caso de muita precisão, já saíam direto para a cidade, para o hospital ou o que fosse.
E pra já que o trio estava nas casas.
- Que houve, Deoclécio? Alguma cobra, bicho morrendo, fala “hombre”!
- O desinfeliz do touro “Brasino” me derrubô um moirão lá na costa da Restinga!
- E qual o porquê da correria por causa dum moirão?
- Seu Ponciano, se me demoro não consigo i lá, desfazê o estrago e voltá em tempo de aproveitá a carona pro povo.
- A la puxa! A saudade é grandota! Mas não te assusta, índio velho. Vamos ajeitar as “cosa”.
E prosseguiu o fazendeiro:
 - Vai lá atrás das taquareiras, chama o negro Bonifácio e diz que careço de ter uma palavra com ele.
Num pé lá e outro cá o Deoclécio já estava com o Bonifácio defronte às casas.
- Tchê, Bonifácio, careço dum favor teu. Deixa o corte das taquaras da horta para a semana que vem. Agora, pega o material para arrumar um moirão lá perto da Restinga. Nem encilha outro animal. Vai na Xuxa, mesmo. Mas devagar, que o Deoclécio quase estrompou a égua com medo de perder o amor da prenda.
E largou uma gaitada, dessas de patrão que respeita e é respeitado pelos campeiros.
- Mas seu Ponciano -  quis remendar o Deoclécio. Não carece. Eu mesmo arrumo.
- E aí eu é que me desentendo com a patroa em casa. Fiquei de estar na cidade a tempo duma janta com o compadre Joca e a comadre Mariquita. E com as estradas do jeito que estão, levamos quase duas horas até lá. Esse negócio de padre que vira prefeito sempre me representou que não ia dar certo. Um cristão que passa a vida toda nos seminários, casa paroquial, essas coisas, vai entender de arrumação de estrada? Lá pela cidade até que não é ruim, mas para nós, tá pior do que a encomenda. Vai tomando teu banho e arrumando o mijados, que em meia hora estamos saindo. E não tem mas, nem meio mas.
Voltou para o escritoriozinho enquanto o peão se ia pro galpão, tirar a catinga com sabão de barra, fazer a barba, passar brilhantina nas melenas, vestir pilcha domingueira.
-  Ainda bem que ontonte engraxei as bota – resmungou baixinho. Como é que ia chegá nela, com os pisante sujo? Tempo pra tudo não hay. Seu Ponciano é buenacho, mas em matéria de horário é pau, pau, pedra, pedra. Se falou meia hora, nem meio minuto a mais.
Pois depois de toda a correria, não é que me sai do galpão um sujeito até que apresentável, faltando dois minutos para a tal meia hora, marcados no velho relógio Tissot, dos de bolso, herança do avô do Deoclécio.
Seu Ponciano conhecia os dotes poéticos e de  “a porfia” do peão.
- E se tu não me for improvisando daqui até a cidade, te largo na beira da estrada.
- Bueno, patrão, até que posso tentiá! Mas careço duns gol de veiz em quando pra não perdê a inspiração. O senhor permite que eu leve um quarto na guampa?
- Mas só um quarto.  Não quero ficar aturando gambá na viagem. E, para o teu bem. Já pensou, chegar na prenda testavilhando de borracho? Atenta nisso:  mulher nenhuma gosta de mamau.
E como o “Canto Alegretense” continuasse martelando os pensamentos, Deoclécio lascou:
- Patrão buenacho é o amigo, seu Ponciano.
Me esperô pra eu ir ver a minha  prenda.
Se Deus quiser, me caso ainda neste ano
E trago ela pra morar cá na fazenda!
O estancieiro não pôde segurar o riso.
- Seu Ponciano, o senhor premite que eu leve o violão?
- Se jurar que não vai além dum quarto de trago e não largar um único verso de pé-quebrado até o final da viagem, vai lá buscar.
E pra já estavam os dois saindo porteira a fora no rumo da buraqueira que levava ao Alegrete.

Ficará Deoclécio dentro dos limites de “um quarto” de garrafa? Se perderá no improviso e largará verso de pé-quebrado? E a Clemenciana, não terá esquecido o peão?Continue acessando.
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